A Escrita Vive do Paradoxo que se Cria
Entre a Determinação e a Humildade.

Por mais que tentemos arranjar uma fórmula mágica que nos permita escrever bem e com impacto para que os nossos leitores sejam tocados pela nossa mensagem, há algo que, regularmente, nos esquecemos: que qualquer processo de escrita exige determinação e humildade. E que a dança entre ambas é crucial tanto para salvaguardar a mensagem que temos, como para permitir ao leitor uma experiência inigualável dessa mensagem. Afinal, as pessoas procuram o que gostam mas também o que não têm. As pessoas procuram transformação de ideias, de sentimentos, de pensamentos, de perspetiva.

Podia mencionar inúmeros autores que são exemplo deste paradoxo, tal como Saramago, Hemingway ou Eric-Emmanuel Schmitt. No entanto, opto por me focar apenas na questão da determinação vs. humildade.

Existem vários princípios na escrita. Muitos mesmos. Mas todos estes são trespassados pela determinação e pela humildade. Pela determinação em expressar um pensamento ou uma emoção; pela humildade em se aperceber que há coisas que devem ficar na intimidade do escritor.

Um escritor deve, acima de tudo, ser honesto e estar preparado para defender a sua mensagem perante o mundo. Esta honestidade garante que a sua essência é expressa, pois um escritor é alguém que possui o dom do Acreditar. Acreditar que pode fazer a diferença na vida das pessoas através da sua mensagem. Porém, e de igual modo, deve ser humilde ao ponto de “ouvir” o que a sua mensagem tem para lhe dizer.

Talvez lhe pareça estranha esta abordagem, mas a mensagem é algo de orgânico. Ela nasce de si. Você dá-lhe vida. É então normal que continua a se desenvolver após ter sido escrita. É por isso que grandes obras são grandes obras. Porque são orgânicas. Porque crescem se aperfeiçoam através dos seus leitores.

Escrever É Mesmo Um Processo Transformador!
Mantenha a Determinação e Seja Humilde.

A tendência de muitos escritores é disponibilizarem o máximo de informação possível. São determinados, mas não humildes. A quantidade de nada diz. É por isso que não nunca avalio um livro pela capa ou pelo número de páginas. Na verdade, os livros que mais mudaram a minha vida tinham capas nada bonitas e nem chegavam às cem páginas. Os autores foram determinados e humildes. Tiveram o discernimento de dar ao leitor a informação certa no momento certo.

Reconheça que há informação que deve ficar para si. Seja humilde e não queira publicar tudo, quando o “tudo” pode não ser o mais importante. Um bom escritor é seletivo. Sabe o que deve expressar da mesma forma que sabe o que deve guardar para si.

Costumo dizer às pessoas que oriento na escrita e publicação de livros que o escritor deve guardar para si a complexidade e disponibilizar a simplicidade. Para tal, é necessário aprender a dançar entre a determinação e a humildade.

Publicar o que se escreve é de uma grande responsabilidade. Chega a um momento em que não fazemos a menor ideia de quem está a ler o nosso livro e de que forma a nossa mensagem está a “mexer” com a vida das pessoas.

Para escrever bem não basta saber escrever sem erros e sem atropelos. É, igualmente, importante dominar o processo de comunicação. Para isso, seja determinado e humilde.