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A vontade promíscua, fútil e violenta de um homem sobre uma mulher, de um adulto sobre uma criança, ou de um indivíduo sobre um animal, é rasca, nojenta e um sinal de que o mal não é somente momentâneo ou uma exceção, mas um machado bem afiado que continua pendente sobre as nossas cabeças. Todos os dias. Todas as horas. Em qualquer lugar. É uma vontade vazia, sem honra, sustentada por olhares que se desviam, por silêncios cúmplices que perpetuam a violência e a submissão, muitas vezes de modo gratuito.

Não há grandeza em querer dominar e abusar do outro. Nem mérito e humanidade em impor-se a quem não tem como se defender e responder. O verdadeiro carácter de alguém revela-se na forma como trata os outros, principalmente os mais inocentes, os que não têm voz, os que estão fragilizados. Usar a força, a manipulação ou o medo para subjugar, é sinónimo de fraqueza, não de glória. É um grito desesperado de quem nunca soube amar nem ser amado com verdade.

Sinto-me triste, revoltado, desencontrado. Em que mundo vivo e que mundo irei deixar aos meus filhos?

Vejo uma sociedade anestesiada onde a dor do outro virou espetáculo, estatística, e que, pasme-se, até dá direito a milhares de visualizações e de gostos nas redes sociais.

Um mundo que se diz moderno, mas que continua preso a estruturas mal definidas que promovem o abuso, a desigualdade e a violência disfarçada de influência ou autoridade. Onde os gritos de quem sofre se perdem entre feeds, manchetes e políticas governamentais, em muitos casos brandas, e em que a empatia e o amor (ai o amor!) parecem estar em vias de extinção.

Pergunto-me como posso educar os meus filhos para serem diferentes, para resistirem ao ódio, à indiferença, à crueldade banalizada, quando são constantemente tentados pelo contrário. Como ensinar-lhes que a verdadeira coragem está em defender o que é justo, mesmo quando é difícil. Que ser humano não é apenas uma condição biológica, mas uma escolha diária.

No meio dessa angústia, dessa frustração que me corrói por dentro, tento resistir e manter o coração no sítio certo. Ainda escrevo, grito, denuncio, porque silenciar seria entregar a alma à podridão que critico. E mesmo que o mundo não mude da noite para o dia, que a violência continue a arrastar-se pelas ruas, pelas redes sociais e pelas casas onde muitos de nós habitamos, eu opto pela esperança. Escolho plantar, ainda que em solo árido, as sementes de um amanhã diferente.

Talvez, se muitos de nós não desistirmos, o mundo que deixamos aos nossos filhos possa ser menos sombrio. Mais justo. Mais humano. Mais mundo.

 

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