Por mais curioso que pareça, a leitura ajuda-nos a mantermos a fé. Isto foi o que aprendi ao longo da minha caminhada. Como não desistir dos meus sonhos alimentando, regularmente, a minha fé.

Quando lemos olhamos para dentro. Desviamos a atenção do exterior para nos focarmos em nós próprios através da história que estamos a ler. Assumimos papéis de personagens, viajamos para locais longínquos nunca antes visitados, cheiramos aromas novos, conhecemos pessoas novas, vivemos experiências que nunca havíamos vivido, sentimos outras partes de nós. E isto tudo ajuda-nos a alimentar a nossa fé.

Sonhos. Todos nós temos sonhos. Projetos, ideias mentais de como gostaríamos que a nossa vida fosse. Vivemos numa espécie de ilusão que tanto nos constrói, como nos corrói. Não é fácil concretizar um sonho. É preciso dedicação, estrutura mental, tempo, fé.

Durante a minha caminhada tive muitos momentos em que perdi a fé. Perdi a segurança, a clareza e deixei que o medo fosse maior que os meu sonhos. Perdi o que para mim é dos aspetos mais profundos do ser humano. A capacidade de ver quando ainda não há nada para ver.

Muitos projetos foram destruídos por perder a minha fé. Sei que deixei de ajudar muitas pessoas por isso. Porque me recolhi, me encolhi, me reneguei. Porque perdi a fé em mim próprio. Porque só conseguia ver aquilo em que conseguia tocar.

Saramago dizia que “se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara”. Um escritor acusado muitas vezes de não ter fé é, para mim, um dos que mais trabalhou a sua fé. Um ser que, através da sua escrita, mudou a forma como sentimos o sagrado pessoal.

Sabes, é duro. É mesmo duro ver ideias geniais cair como pedras na água. É frustrante sentir que num momento somos tudo para logo a seguir nada sermos. Ficamos loucos. Tudo em nós se retrai. O corpo, a mente, os nossos sentimentos, a nossa força de viver.

Felizmente aprendi a manter e a resguardar a minha fé. Aprendi a acreditar e a entregar quando tinha de libertar o que já de mim não dependia. Aprendi a ligar-me a histórias que me seguram pela mão quando estou prestes a perder o meu foco, o meu amor-próprio e a minha capacidade em realizar os meus sonhos.

Lendo os livros certos consigo manter-me motivado, alinhado com os meus valores. Mesmo que isso signifique viver a história de outros por momentos, está tudo certo. Temos muitas vezes de sair de nós mesmos para que consigamos reparar em nós. Novamente recorrendo à sabedoria de Saramago, “é preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.”

Tenho a plena consciência de que se não tivesse aprendido a alimentar a minha fé que a minha vida seria atualmente um inferno. Não poupo em palavras quando preciso ser honesto, principalmente comigo próprio. A minha existência seria um pântano demasiado lamacento para que pudesse construir o quer que fosse.

A fé não é somente um ato de religiosidade. A fé é humana. Não nascemos com fé, da mesma forma que não nascemos a saber ler. A fé é algo que vamos semeando dentro de nós à medida que vamos tendo a capacidade de ver o que não é visível. Algo que nos permite ver mesmo que sejamos cegos.

Sinto uma profunda gratidão por todos os mestres que me ajudam a alimentar a minha fé. Mestres que através dos seus livros me orientam nas minhas escolhas e a conservar intacta a minha capacidade de sonhar, de agir e de usufruir.

O livro certo no momento certo é como a chave certa do euromilhões. Na verdade, é muito mais do que isso. É a chave-mestra para o melhor e o mais genuíno de ti. A chave da realização pessoal ao mais alto nível. A que abre os teus recursos internos para que tudo aconteça tal qual ambicionas.

Não vou pedir-te que leias mais ou leias menos livros, nem vou soprar-te ao ouvido este ou aquele título de livro que sei que te pode ajudar. Vou apenas sugerir-te que equaciones a tua vida e que sintas aonde poderias estar se tivesses a habilidade de manter a tua fé intacta.