Quando alguém que nos é querido morre, sentimos que um espaço dentro de nós fica desocupado.
Invade-nos o vazio, a tristeza, a mágoa, a revolta e a raiva mas também uma capacidade inata de amar o que passou a ser invisível.
O espaço que alguém ocupa em nós jamais ficará em branco quando essa pessoa morrer. Não se apagará. Não se esvairá. Não desaparecerá.
E quantas e quantas vezes damos por nós a pensar que quem partiu não partiu? Não acreditamos e alimentamos a esperança de que tudo não passou de um pesadelo. Mas facilmente chegamos à conclusão que a morte é maior do que a verdade. É um facto.
Não perdemos alguém que amámos, mas alguém que ainda amamos. O amor não se esvai como o corpo. O amor fica enquanto o corpo vai.
Os livros ajudam-me a reencontrar quem já partiu. A conectar-me, a sentir e a tocar.
Quantas personagens já me fizeram sentir a presença do meu pai ou da minha mãe?
Quantas histórias já me fizeram acreditar que a transição entre vida e morte é apenas isso mesmo, uma transição?
Quantos livros já me deram sinais de que alguém que já partiu falava comigo?
Quantas e quantas vezes através de um livro me senti de tal forma conectado que tudo à minha volta era uno e maravilhoso?
Quantas e quantas vezes um livro me aconchegou à noite tal como o meu pai e a minha mãe faziam?
Quantas e quantas vezes senti-me em paz com a morte através da leitura de um livro?
Os livros ajudam-nos não só a conhecer, mas também a tocar, a saborear e a experienciar a mais sublime das experiências. A da própria vida.