Tudo começa por um ponto e tudo o que esse ponto contém resume-se a escolhas.

A procura para o significado ou sentido da existência sempre foi uma das grandes preocupações da humanidade. Tentar perceber a verdadeira razão de como tudo nasce, vive e morre é, considerada por muitos, um dos desígnios mais profundos e nobres que existe. Mas será a resposta assim tão importante? Será que isso nos traz a real possibilidade de viver mais e melhor?

Sou da opinião que nem todas as questões têm ou merecem resposta. Para mim, a sua importância é medida de acordo com um resultado. Com algo de concreto que acontece na nossa vida. De que vale sabermos as respostas às perguntas existenciais se isso não nos trouxer vantagens práticas?

Muitos foram, e são, os filósofos e cientistas que investiram e continuam a dedicar o seu tempo e conhecimento em chegar a uma conclusão. Há milhares de teorias, de normas, de modos de viver, de pensar e de agir. Contudo, continuamos tão longe da derradeira descoberta em que tudo tem uma explicação e um modelo. Prova disso é a sociedade em que vivemos que aponta para todos os sítios a partir de uma só perspetiva.

A seguir a um ponto vem outro ponto.
Dois pontos juntos fazem uma linha.

Ao desenhares um ponto numa folha verás que a partir desse ponto poderás desenhar em qualquer direção. A escolha é tua. Não será a nossa vida uma sucessão de pontos desenhados, pelas nossas próprias mãos, uns a seguir aos outros?

A primeira coisa que acontece quando estamos perante um problema é sentirmos os seus sintomas. A dor, por exemplo, é um sinal de alerta para algo que não está bem. Se focarmos a nossa atenção meramente nos sintomas, provavelmente o problema não desaparecerá e, mesmo que desapareça, será temporário. Mas se procurarmos de modo a entender a origem do problema teremos mais sucesso na sua resolução, pois encontramos o ponto donde o problema nasceu.

Se por um lado ficamos felizes quando a dor desaparece, por outro ficamos com medo de a dor voltar a aparecer. Este medo é o aviso de que não explorámos o ponto inicial do problema.

Agora pergunto-te: quanto da tua vida já investiste em decifrar e atenuar sintomas? Quanto da tua vida já deste para chegar à origem do que te provoca mal-estar? A tua vida atual representa em qual dessas questões te tens empenhado mais.

A seguir a um ponto vem outro ponto.
Dois pontos juntos fazem uma linha.
De uma conjunção de linhas desenhadas de certa forma terás uma evidência clara de qualquer coisa. Uma forma concreta, uma imagem definida, algo que consegues identificar e relacionar.

Ao fazermos a reconstituição da nossa vida certamente encontraremos vários pontos pelo caminho que deram linhas. A esses podemos chamar de momentos de decisão. São momentos em que tiveste de decidir atuar sobre qualquer coisa. O próximo movimento, o próximo investimento, a viagem seguinte, o próximo livro, o próximo passo numa relação, se vais ou se ficas, se dizes sim ou não.

Quando o fazemos estamos perante um bloco de informação que, segundo este, a decisão que tomarmos será a melhor. Mas o que acontece quando a informação que tens já vem enviesada de trás? Certamente tomarás uma má decisão ou, no mínimo, uma decisão que não é plenamente fundamentada. Não é coerente com o que realmente sentes.

Todas as decisões que tomas têm em si o resultado de decisões anteriores, o que equivale a dizer que a informação e o conhecimento que tens podem, em algum momento, falhar o seu real propósito. Há um património de decisões interno que te persegue para onde quer que vais. A forma como cultivas esse património define o teu presente e o teu futuro.

Já te sentiste derrotado pelas tuas escolhas?
Já sentiste que tudo o que consegues só é possível através de uma luta interna gigantesca?
Muita percentagem da nossa existência é utilizada em decidir. E todos sabemos quando a decisão que tomámos foi boa ou não, pois sentimos o resultado direto do tipo de decisão que realizámos.Com base no conhecimento que temos e nos dados que nos são apresentados de momento decidimos. Optamos por um cenário que nos trará uma série de impactos. A nossa vida é uma constante dialética entre o que já conhecemos e o que desejamos que aconteça.

Atuamos na existência com o que há em nós. Na verdade, somos “o que há em nós”.

Quando nos sentimos derrotados pelas escolhas não estamos somente perante o fracasso, mas também face-a-face a um défice de conhecimento que, supostamente, já devia estar adquirido. É como que o nosso saldo de conhecimento relativo a uma situação fosse negativo.

Há decisões de vida ou de morte. Aquelas decisões que impactam a tua vida na sua total expansão. E sim, basta uma pequena hesitação para que tudo mude para sempre. Mais facilmente sobrevivemos a uma queda do que a uma má decisão. Mais depressa a nossa existência é afetada pelo que há em nós do que uma vela de um barco é soprada pelo vento.

Ao olharmos à nossa volta todos nós sentimos coisas diferentes. Agimos com o que há em nós nos diversos contextos da vida. Quando o que há em nós não está sintonizado com o contexto começam as lutas internas. Sentimo-nos cansados, incoerentes, desfasados, tristes, raivosos, perdidos, confusos.

Idealizamos a nossa vida de certa forma esperando que, em algum momento, isso se concretize. Muitas vezes damos mais atenção à espera do que à ação. Acreditamos, temos fé, confiança. Esperamos da vida o que nunca fomos capazes de dar à vida. E tudo falha. O tempo vai esgotando, as energias vão faltando, os sonhos tornam-se histórias internas de um interior desconstruído e lamacento. Envelhecemos pouco sorridentes e com uma ausência de amor e conquista incríveis. Chegamos a um ponto de não retorno porque o tempo acabou. O tempo sempre acaba quando morremos para nós.

A nossa maior luta é a que travamos connosco próprios. E se tudo fracassou não é porque os outros não quiseram ou permitiram. Se tudo falhou é porque não tivemos a coragem e a ousadia de alimentarmos o que há em nós de certa forma. Esta certa forma é o conhecimento ideal que necessitas cultivar para que a existência que ambicionas seja efetiva.

Tudo o que há em nós é tudo o que existe. Tudo o que construímos dentro tem uma correspondência direta em tudo o que existe. Só podes ver fora o que já há, de uma certa forma, em ti.

Os livros que lês despertam-te
Os pensamentos que tens definem-te
As ações que tens expressam-te
O amor que demonstras expande-te
Os erros que cometes orientam-te
As pessoas com as quais te dás representam-te
A força de vontade, a coragem e a motivação que tens impulsionam-te
O conhecimento que adquires eleva-te

O teu raio de ação no mundo e a tua respetiva felicidade neste mundo derivam do nível de conhecimento que tens quer acerca de ti, quer acerca da existência em geral. E não há nada mais belo do que quando “o que há em nós” tem a habilidade de fazer crescer a existência onde tudo acontece. Quando o próximo ponto é desenhado com a clareza de que estás no caminho certo.