todoslerTal como o chef parisiense Auguste Gusteau (do filme “Ratatui”) dizia: “qualquer um consegue cozinhar”. O mesmo acontece com a leitura: qualquer um consegue ler!

O verdadeiro desafio está em associar o contexto do leitor ao contexto da obra e vice-versa. É como uma orquestra: todos têm de estar afinados e tocar em sintonia. É necessário sincronismo!

A questão do chef Gusteau fez-me lembrar um dilema que muito “atormenta” professores e pais: como fazer com que o meu filho perceba (interprete; leia; etc.) determinada obra?

Na maioria das vezes não se joga com os contextos. Não há habilidade em criar um ponto de encontro entre a obra e o leitor. Esse ponto de encontro é o equilíbrio: e aqui sim, podemos falar em leitura. A leitura é um diálogo entre quem escreveu e quem lê através de uma história, de um conto, de uma explicação de matemática, etc.

Como criar um contexto de leitura?

A criação de um contexto de leitura depende de dois factores: da obra em si e das experiências que representa (o contexto em que foi escrita e os objectivos da sua realização) e do contexto em que o leitor lê a mesma.

Associar estes dois factores de uma forma consistente e fluída é criar uma ponte entre ambos. Estando a ponte criada… é só percorrer o caminho.

Imaginemos que um aluno tem de ler “Os Lusíadas” só porque faz parte do currículo escolar. Se a obra for colocada sem que o contexto do aluno seja ponderado, o mais normal é ele ler (se é que consegue ler até ao fim sem recorrer a resumos feitos às 3 pancadas) sem usufruir da mesma. Aqui ele não cresce nem ganha nada com isso. Julgo que não é isso que se quer.

Estou a fazer a experiência com o meu filho. Aproveitei a deixa que ele me deu para provar a mim mesmo que o que digo resulta.

Ele tem um objectivo: ter uma camisola de guarda-redes. A mesma custa 70 euros.

Contudo, ele tinha um problema: só recebe de mesada 20 euros. Como poderia ele arranjar o restante? Não trabalha nem podemos estar constantemente a dar-lhe abébias, certo!?

Então resolvi aplicar o que li no livro “Pai rico, pai pobre” de Robert T. Kiyosaki e Sharon  L. Lechter.

Sugeri-lhe, de modo que percebesse, o que fazer para conseguir o restante. Após averiguarmos o que ele poderia dar de si para receber algo em troca (dinheiro), chegámos à conclusão que há tarefas em casa que ele poderia desempenhar, dando ao pai e à mãe algum alívio.

Ao que ele ganhasse dar-lhe-ia o nome de activo (no caso dele foi “tenho” e ao que ele gastasse chamaríamos passivo (para ele, “gastei”).

Arranjámos um caderno em que ele próprio colocou as seguintes informações: objectivo; valor da mesada; activo (“tenho”); passivo (“gastei”) e o preçário das tarefas.

A ideia está a funcionar muito bem. Além de desenvolver a inteligência financeira, está a dar um passo gigantesco noutras áreas: responsabilidade; brio; matemática.

A esse seu caderno deu o nome de: “caderno da riqueza”. E entenda-se que esta riqueza vale mais do que o dinheiro que ele ganhará. A maior riqueza foi ele ter despertado outras capacidades importantes ao seu desenvolvimento.

Nesta situação eu fui o responsável por criar a ponte entre dois contextos. Houve um equilíbrio.

Se perguntarem se esta obra é para uma criança de 7 anos, respondo-vos que sim. Pode não parecer, mas é! O que pode não ser ideal para a criança é a ponte que se cria.

Tenho a certeza que esta camisola de guarda-redes já tem um sabor a vitória!

E para que fique bem claro: qualquer um consegue ler!