Um dia disseram-me que pedir ajuda é um ato de coragem. Ao princípio custou-me ouvir tais palavras. Mas depois percebi que, por vezes, é necessário uma mão que nos guie, um coração que nos acolha, um pontapé no rabo que nos faça estremecer.


Somos os mais fortes, os mais audazes, os melhores. Ou então somos os mais fracos, os mais atrofiados, os piores. Somos muitas vezes o extremo de nós mesmos e sentimos dificuldades em lidar com esta bipolaridade que nos corrompe dia após dia. Andamos na vida como que andássemos na corda bamba em que o nosso maior medo não é perder o equilíbrio mas cair. Tudo tem um resultado. O resultado da queda ou o resultado de chegarmos ao outro lado sãos e salvos.

Pedir ajuda, aquela sensação pouco confortável que nos expõe perante um mundo que, achamos nós, nos observa e nos julga. Na verdade, não é o mundo que nos julga mas nós mesmos. Em última instância o mundo só concorda connosco.

Mas por que razão é tão desafiante pedir ajuda? Será que nos nossos genes está gravada informação que diz que nos diminuímos quando o fazemos? Ou será que só aceitamos pedir ajuda quando já estamos mesmo mal? Quando tudo já parece irrevogável? Quando já perdemos uma grande parte de nós? Quando tudo já desmoronou?

Fragilidade, agonia, medo de nos abrirmos a alguém que até pode esperar por nós de coração aberto. Isto é tudo o que sentimos quando pensamos em pedir ajuda. Não está certo, nem errado. Mas não seria tudo bem mais fácil se pedíssemos ajuda quando ainda não caímos?

Pedir Ajuda é Um Ato de Coragem 

Muitos dos estados depressivos atingem o seu extremo porque as pessoas não pediram ajuda assim que os primeiros sintomas começaram. Optam por vestir a armadura e lutar sozinhas. Pode ser considerado um ato de valentia quando o conseguimos. Afinal, o autoconhecimento ajuda-nos a prever e a resolver um conjunto de situações. Contudo, há um limite e a verdadeira sabedoria é reconhecê-lo e respeitá-lo. Facilmente a valentia se torna fraqueza. Facilmente tudo o que poderia ser evitado acaba por acontecer. E nós caímos num vazio sem fundo. Num coma profundo e desesperadamente provocante.

A palavra coragem tem a sua origem no latim coraticum. Este termo latino é composto por cor, que significa coração, mais o sufixo aticum, que é utilizado para referir uma ação. Coragem é a ação do coração. Aristóteles afirmava que “a coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”. Mas será que a coragem reside só no coração das pessoas de feitos heroicos? Não, de todo.

A coragem é quando ouvimos e seguimos o nosso coração. É quando estamos dispostos a acreditar e nos entregamos de forma clara e inequívoca àquilo que ele tem para nos ensinar. O primeiro pedido de ajuda vem sempre do coração. É ele que te sussurra ao ouvido que há algo que precisa ser curado. Se não o ouves não é porque ele fala baixinho, mas porque a tua razão e as tuas crenças te fazem acreditar que o coração não tem voz. Mas o teu coração grita, esperneia, chora. E mesmo assim tu não o escutas. Não lhe dás colo e atenção.

Não esperes que te estejas a afogar para aprender a nadar.
Não aguentes as lágrimas quando elas têm mesmo de cair.
Não deixes de abraçar hoje quem amas. Amanhã ela já pode ter partido.
Não guardes na tua boca as palavras que têm de ser ditas.
Não permitas que uma mera desculpa seja suficiente para quem te maltrata.
Não deixes de parar quando tens mesmo de parar.
Não esperes estar já em queda livre para pedir ajuda.

Pedir ajuda é mesmo um ato de coragem. Milhões de pessoas, tal como tu e eu, aprendem esta lição todos os dias. Que pedir ajuda é das maiores manifestações de amor-próprio.

Se estás numa situação difícil em que tudo parece não estar a funcionar, não aguardes, entra em ação. Procura algo ou alguém que te possa escutar, compreender e orientar. Por mais que possa parecer é mais fácil do que parece. É libertador. Basta aceitarmos que a ajuda é tudo o que precisamos para sanar a nossa dor.

Pessoalmente procuro ajuda nos livros. Em muitos deles encontro o conhecimento necessário para ter outra perspetiva de mim próprio perante determinado dilema. Sei e sinto que, sem os livros, só uma pequena parte de mim iria sobreviver. Aquela parte que funciona independentemente da minha essência. E isto eu não posso permitir que aconteça.

Ler é um ato de bondade e de coragem que podes fazer por ti. Os livros já me salvaram de muitas quedas, até daquelas que supostamente não me iria reerguer. Houve momentos em que só a luz do conhecimento me retirou das trevas. Momentos em que só me foi possível amar porque, através de um livro, tive a capacidade de despertar em mim o amor. Momentos em que avancei com a minha vida porque, na base desta decisão, houve um livro que me impulsionou. Momentos em que conheci, através de um livro, um César renovado, feliz e pleno.

Ler, a forma incrível de fazer o nosso subconsciente acreditar que tudo é possível. Ao semeares boas sementes, colherás bons frutos. Na leitura é a mesma coisa. O que colocas dentro da tua cabeça é o que dela sairá. Por isso, lê. Lê bons livros. Livros não só que te curem, mas que te permitam crescer, expandir e viver plenamente.

Semeia em ti o que de ti queres que brote.